sábado, 5 de janeiro de 2008

Topete: um cachorro filósofo....ou um filósofo cachorro?


Tipo assim:
De porra nenhuma adiantou Mel Gibson fazer Jesus Cristo sangrar tanto............. Dan Brown mostrar a família toooooooooda do cara e James Cameron revelar seus ossos (eu falei OSSOS)............ só me vem à cabeça um adágio popular meio modificado: Em terra de cego, quem tem um olho é "gay".

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Eu, Montaigne e Você


Não há justiça cega, imparcialidade, neutralidade, espírito solidário, interesse comum, político comprometido, religião verdadeira, ecofilosofia, nem amor eterno.
Tudo é CONVENIÊNCIA!!!

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Da queda que as mulheres têm pelos tolos

Creio que assim como "A Arte De Lidar Com as Mulheres" de Schopenhauer, este texto traça a essência do comportamento humano a respeito do amor.


QUEDA QUE AS MULHERES TÊM PARA OS TOLOS

ADVERTÊNCIA

Este livro é curto, e talvez deva sê-lo mais. Desejo que ele agrade como me sai das mãos; mas é com pesar que me vanglorio por esta obra. Falar do amor das mulheres pelos tolos não é arriscar ter por inimigas a maioria [grifo é nosso] de um e outro sexo? Diz-se que a matéria é rica e fecunda; eu acrescento que ela tem sido tratada por muitos. Se tenho, pois, a pretensão de ser breve, não tenho a de ser original. Contento-me em repetir o que se disse antes de mim; minhas páginas conscienciosas são um resumo de muitos e valiosos escritos. Propriamente falando, é uma comparação científica, e eu obteria a mais doce recompensa de meus esforços, como dizem os eruditos, se inspirasse aos leitores a idéia de aprofundar um tão importante exemplo. Quanto à imparcialidade que presidiu a redação deste trabalho, creio que ninguém a porá em dúvida. Exalto os tolos sem rancor, e se critico os homens de espírito, é com um desinteresse, cuja extensão facilmente se compreenderá.



I


Il est des noueds secrets, il est des sympathies. [literalmente: “São os laços secretos, são as afinidades”]

Passa em julgado que as mulheres lêem de cadeira em matéria de fazendas, pérolas e rendas, e que, desde que adotam uma fita, deve-se crer que a essa escolha presidiram motivos plausíveis. Partindo deste princípio, entraram os filósofos a indagar se elas mantinham o mesmo cuidado na escolha de um amante, ou de um marido. Muitos duvidaram. Alguns emitiriam, como axioma, que o que determinava as mulheres, neste ponto, não era, nem a razão, nem o amor, nem mesmo o capricho; que se um homem lhes agradava, era por se ter apresentado primeiro que os outros, e que sendo este substituído por outro, não tinha esse outro senão o mérito de ter chegado antes do terceiro. Permaneceu por muito tempo este sistema irreverente. Hoje, graças a Deus, a verdade se descobriu: veio-se a saber que as mulheres escolhem com pleno conhecimento do que fazem. Comparam, examinam, pesam, e só se decidem por um, depois de verificar nele a preciosa qualidade que procuram. Essa qualidade é... a toleima!



II


Desde a mais remota antiguidade, sempre as mulheres tiveram a sua queda para os tolos. Alcibíades, Sócrates e Platão foram sacrificados por ela aos presumidos do tempo. Turenne, la Rochefoucald, Racine e Molière, foram traídos por suas amantes, que se entregaram a basbaques notórios. No século passado, todas as boas fortunas foram reservadas aos pequenos abades. Estribados nesses ilustres exemplos, as nossas contemporâneas continuam a idolatrar os descendentes dos ídolos das avós.
Não é nosso fim censurar uma tendência que parece invencível; o que queremos é motivá-la. Por menos observador e menos experiente que seja, qualquer pessoa reconhece que a toleima é quais sempre um penhor do triunfo. Desgraçadamente, ninguém pode, por sua própria vontade, gozar das vantagens da toleima. A toleima é mais do que uma superioridade ordinária: é um dom, é uma graça, é um selo divino. [o grifo é nosso]. “O tolo não se faz, nasce feito.”
Todavia, como o espírito e como o gênio, a toleima natural fortifica-se e se estende pelo uso que se lhe faz. É estacionária no pobre diabo que só raramente pode aplicá-la; mas toma proporções desmarcadas nos homens a quem a fortuna ou a posição social cedo leva à prática do mundo. Este concurso da toleima inata e da toleima adquirida é que produz a mais temível espécie de tolos. Os tolos que o acadêmico Trublet chamou “tolos completos, tolo integrale, tolos do apogeu da toleima.” O tolo é abençoado do céu pelo fato de ser tolo, e é pelo fato de ser tolo, que lhe vem a certeza de que qualquer carreira tome, há de chegar felizmente ao termo. Nunca solicita empregos, os aceita em virtude do direito que lhe é próprio: nominatum léo [= “designado pela sorte”, léo: forma arcaica, 1913, de “léu”]. Ignora o que é ser corrido ou desdenhado; onde quer que chegue, é festejado como conviva que se espera. O que pode opor-lhe como obstáculo? É tão enérgico no choque, tão igual nos esforços e tão seguro no resultado! É a rocha despegada, que rola, corre, salta e avança, caminho por si, precipitada pela sua própria massa. [nosso grifo] Sorri-lhe a fortuna, particularmente ao pé das mulheres. Mulher alguma resistiu nunca a um tolo. Nenhum homem de espírito teve ainda impunemente um parvo como rival. Por quê?... Há necessidade de perguntar por quê? Em questão de amor, o paralelo a estabelecer entre o tolo e o homem de siso não é para a confusão do último?




III


Em matéria de amor, deixa-se o homem de espírito embalar por estanhas ilusões. As mulheres são, para ele, entes de mais elevada natureza que a sua, ou pelo menos ele empresta-lhes as próprias idéias, supões-lhes um coração como o seu, imagina-as capazes, como ele, de generosidade, nobreza e grandeza. Imagina que para agradar-lhes é preciso ter qualidades acima do vulgar. Naturalmente tímido, exagera mais ao pé delas a sua insuficiência; o sentimento de que lhe falta muito o torna desconfiado, indeciso, atormentado. Respeitoso até a timidez, não ousa exprimir o seu amor em palavras; o exala por meio de uma não interrompida série de meigos cuidados, ternos respeitos e atenções delicadas. Como nada quer à custa de uma indignidade, não se conserva continuamente ao pé daquela que ama, não a persegue, não a fatiga com a sua presença. Para interessá-la em suas mágoas, não toma ares sombrios e tristes; pelo contrário, esforça-se por ser sempre bom, afetuoso e alegre junto dela. Quando se retira da sua presença, é que mostra o que sofre, e derrama as suas lágrimas em segredo.
O tolo, porém, não tem desses escrúpulos. A intrépida opinião que ele tem de si próprio o reveste de sangue frio e segurança. Satisfeito de si, nada lhe paralisa a audácia. Mostra a todos que ama, e solicita com instância provas de amor. Para fazer-se notar daquela que ama, importuna-a, acompanha-a nas ruas, vigia-a nas igrejas e espia-a nos espetáculos. Arma-lhe laços grosseiros. À mesa, oferece-lhe uma fruta para comerem ambos, ou passa-lhe misteriosamente com muito jeito um bilhete de amores. Aperta-lhe a mão ao dançar e saca-lhe o ramalhete de flores no fim do baile. Numa noite de partida, diz-lhe dez vezes ao ouvido: “Como é bela!”, porquanto o instinto lhe revela que é pela adulação que se alcançam as mulheres, bem como se as perde, tal qual como acontece com os reis. De resto, como nos tolos tudo é superficial e exterior, não é o amor um acontecimento que lhes mude a vida: continua como antes a dissipá-lo nos jogos, nos salões e nos passeios.



IV


O amor, disse alguém, é uma jornada, cujo ponto de partida é o sentimento e cujo termo inevitável, a sensação. Se isto é verdade, o que há a fazer é embelecer a estrada e chegar o mais tarde possível ao fim. Ora, quem melhor que o homem de espírito sabe parolar à beira do caminho, parar e colher flores, sentar-se às sombras frescas, recitar aventuras e procurar desvios e delongas? Um caracol de cabelos mal arranjado, um comprimento menos apressado que de costume, um som de voz discordante, uma palavra mal escolhida, tudo lhe é pretexto para demorar os passos e prolongar os prazeres da viagem.
Mas quantas mulheres apreciam esses castos manejos e compreendem o encanto dessas paradas à borda de uma veia límpida que reflete o céu? Elas querem amor, qualquer que seja a sua natureza, e o que o tolo lhes oferece é o bastante, por mais insípido que seja.



V


O homem de espírito, quando chega a fazer-se amar, não goza de uma felicidade completa. Atemorizado com a sua ventura, trata antes de saber por que é feliz. Pergunta por que e como é amado; se, para uma amante, ele é uma necessidade ou um passatempo; se ela cedeu a um amor invencível; enfim, se é amado por si mesmo. Cria ele próprio e com engenho as suas mágoas e cuidados; é como o sibarita que, deitado em um leito de flores, sentia-se incomodado pela dobra de uma folha de rosa. Num olhar, numa palavra, num gesto, acha mil nuanças imperceptíveis, desde que se trata de interpretá-las contra si. Esquece os encômios que levemente o tocam, para lembrar-se somente de uma observação feita ao menor dos seus defeitos e que o tortura bastante. Mas, em compensação desses tormentos, há no seu amor tanto encanto e delícias! Como estuda, como extrai, como saboreia as volúpias mais fugitivas até a última essência! Como a sua sensibilidade especial sabe descobrir o encanto das criancices frívolas, dos invisíveis atrativos, dos nadas adoráveis!
O tolo é um amante sempre contente e tranqüilo. Tem tão robusta confiança nos seus predicados, que, antes de ter provas, já mostra a certeza de ser amado. E assim, deve ser. Em sua opinião, faz uma grande honra à mulher a quem dedica os seus eflúvios. Não lhe deve felicidade; ele é que lha dá e como tudo o leva a exagerar o benefício, não lhe vem à idéia de que se possam ter ingratidões para com ele. Assim, no meio das alegrias do amor, saboreia ainda a embriaguez da fatuidade. Mas como, em definitivo, é ele próprio o objeto de seu culto, depressa o tolo se aborrece, e como o amor para ele não é mais que um entretenimento que passa, os últimos favores, longe de o engrandecerem mais, desligam-no pela saciedade.



VI


O homem de espírito vê no amor um grande e sério negócio, ocupa-se dele como do mais grave interesse de sua vida, sem distração, nem reserva. Pode perder nele algumas das suas qualidades viris, mas é para crescer em abnegação, em dedicação, em bondade. Suporta tudo daquela que ama, sem nada exigir dela. Quando ela atende a alguns dos seus votos, quando previne alguns dos seus desejos, longe de ensoberbecer-se, agradece com uma efusão mesclada de surpresa. Perdoa-lhe generosamente todos os males que lhe causa, porque, muito orgulhoso para enraivecer-se ou lastimar-se, não sabe provocar, nem a piedade que enternece, nem o medo que faz calar. Oh! que inferno, se a má ventura lhe depara uma mulher bela e má, uma namoradeira fria de sentidos, ou uma moça de rabugice precoce! Sofre então vivamente com a perfídia da mulher amada, mas desculpa-a pela fragilidade do sexo. A sua indulgência pode então conduzi-lo á degradação. Ele segue a olhos fechados o declive que o arrasta ao abismo, sem que a queixa, a ambição e a fortuna possam retê-lo.
O néscio escapa a estes perigos. Como não é ele quem ama, é ele quem domina. Para vencer uma mulher, finge, por alguns momentos, o excesso de desespero e da paixão; mas isso não passa de um meio de guerra, tática de cerco para enganar e seduzir o inimigo. Logo depois recobra a tirania e não abdica mais. Para entreter-se nisso, tem o tolo o seu método, as suas regras e a sua linha de conduta. É indiscreto por principio, porquanto, divulgando os favores que recebe, compromete a que lhes concede e ao mesmo tempo afasta as rivalidades nascentes. É susceptível pela razão e cioso por cálculo, a fim de promover esses proveitosos amuos que lhe servem, a seu grado, para conduzir a uma ruptura definitiva ou para exigir um novo sacrifício. Mostra uma cruel indiferença, indicando pouca confiança nas provas de simpatia que se lhe dão. Num baile, proibindo à sua amante de dançar, não faz caso dela de propósito. Aflige-a com aparências de infidelidade, falta à hora marcada para se encontrarem, ou, depois de se ter feito esperar, vem dando desculpas equívocas de sua demora. Hábil em semear a inquietação e o susto, faz-se obedecer à força de ser [intolerante?], e acaba por inspirar uma afeição sincera à força de promovê-la.



VII


O homem de espírito, assustado com o vácuo imenso, que deixa no coração uma afeição que se perde, só rompe o laço que o prende à causa de dilacerações interiores. Como bem se disse, sendo preciso um dia para conseguir é precisa mil para se reconquistar. Mesmo no momento em que volta a ser livre: quantas vezes um sorriso, um meneio de cabeça, uma maneira de puxar o vestido, ou de inclinar o chapelinho de sol, não o faz recair no seu antigo cativeiro! De resto, a mulher, a quem ele tiver revelado o segredo do seu coração, ficará sempre para ele como ser aparte. Não a esquece nunca. Morta, ou separado, nutre por aquela que perdeu longas saudades. Perseguido pela lembrança que dela conserva, descobre muitas vezes que as outras mulheres por quem se apaixona só têm o mérito de se parecerem com ela. Dá-se ele então a comparações que o desvairam, que o irritam, que o põem fora de si, exigindo no seu trajar, no seu andar e até no seu falar, alguma cousa que lhe recorde o seu implacável ideal. E se é ele o abandonado, de que torturas sofre! Viver sem ser amado parece-lhe intolerável. Nada pode consolá-lo ou distraí-lo. No caso de tornar a ver os sítios que foram testemunhas da sua felicidade, evoca, à sua memória, mil circunstâncias perseverantes e cruéis. Ali está a cerca cheirosa, cujos espinhos rasgaram o véu da infiel; aqui, o rio que a medrosa só ousava atravessar amparada pela sua mão; além está a alameda, cuja areia fina parece ter ainda o molde de seus ligeiros passos. Contempla, na janela, as longas e alvas cortinas, no peitoril os arbustos em flor, na relva a mesa, o banco, as cadeiras em que outrora se sentaram. É possível que ela tenha mudado tão de repente? Pois não foi ainda ontem que de volta de um passeio ao bosque, lhe enxugou o suor da testa, e que se lhe prendia em doce e estranho amplexo? Hoje, nem mais doçuras, nem mais apertos de mão, nem mais dessas horas ébrias em que todo o passado ficava esquecido! Ele está só, entregue a si mesmo, sem a força, sem alvo: é o delírio do desespero.
O tolo está acima dessas misérias. Não o assusta um futuro prenhe de qualquer inquietação aflitiva. Sempre acobertado pela bandeira de inconstância, desfaz-se de uma amante sem luta, nem remorso; utiliza uma traição para voar a novas aventuras. Para ele, nada há de terrível em uma separação, porque nunca supõe que se possa colocar a vida numa vida alheia, e que se fazendo um hábito dessa comunidade de existência, faz-se pouco novamente sofrer, quando ela tiver de quebrar-se. Da mulher, que deixa de amar, ele só conserva o nome, como o veterano conserva o nome de uma batalha para glorificar-se, ajuntando-o ao numero de suas campanhas.



VIII


Há uma época em que se custa muito amar. Tendo visto e estudado um pouco a mulher, adquire-se uma certa dureza que permite aproximar-se sem perigo das mais belas e sedutoras. Confessa-se sem rebuço a admiração que ela inspira, mas é uma admiração de artista, um entusiasmo sem ternura. Além disso, se ganha uma penetração cruel para ver, através de todos os artifícios de casquilha, o que vale a submissão que ela ostenta, a doçura que afeta, a ignorância que finge. E prenda-se um homem nessas condições! De ordinário é entre trinta e trinta e cinco anos que o coração do homem de espírito fecha-se assim à simpatia e começa a petrificar-se. É, entretanto, possível que nele tornem a aparecer os fogos da mocidade, e que ele venha a sentir um amor tão puro, tão fervente, tão ingênuo, como nos frescos anos da adolescência. Longe de ter perdido as perturbações, as apreensões, os transportes da alma amorosa, sente-os ele de novo com emoção mais profunda e dá-lhes um preço tanto mais elevado, quanto ele está certo de não os ver renascer. Oh! então se lastima o pobre insensato! Ei-lo obrigado a ajoelhar-se aos pés de uma mulher, para quem é nada o mérito de caminhar pouco a pouco atrás de sua sombra, de fazer exercício em torno dos seus vestidos, de se extasiar diante de seus bordados, de lisonjear os seus enfeites. Ai, triste! Esses longos suplícios o revolta, e, Pigmalião desesperado afasta-se de Galatéia, cujo amor se não pode reanimar.
Esses sintomas de idade são desconhecidos ao tolo, porquanto cada dia que passa não lhe faz achar no amor um bem mais caro, ou mais difícil a conquistar. Não tendo sido melhorado, nem endurecido pelos revezes da vida, continuando a ver as mulheres com o mesmo olhar, exprime-lhes os seus amores com as mesmas lágrimas e os mesmos suspiros que lhes reserva para pintar os antigos tormentos. E como ele só exigiu sempre delas aparências de paixão, vem facilmente a persuadir-se que é amado. Longe de fugir, persevera e... triunfa.



IX


O homem de espírito é o menos hábil para escrever a uma mulher. Quando se arrisca a escrever uma carta, sente dificuldades incríveis. Desprezando o vasconço da galanteria, não sabe como há de se fazer entender. Quer ser reservado e parece frio; quer dizer o que espera e indica receio; confessa que nada tem para agradar, e é apanhado pela palavra. Comete o crime de não ser comum ou vulgar. As suas cartas saem do coração e não da cabeça; têm o estilo simples, claro e límpido, contendo apenas alguns detalhes tocantes. Mas é exatamente o que faz com que elas não sejam lidas, nem compreendidas. São cartas decentes, quando as pedem estúpidas.
O tolo é fortíssimo em correspondência amorosa e tem consciência disso. Longe de recuar diante da remessa de uma carta, é muitas vezes por aí que ele começa. Tem uma coleção de cartas prontas para todos os graus de paixão. Alega nelas, em linguagem brusca, o ardor de sua chama; a cada palavra repete: meu anjo, eu vos adoro. As suas fórmulas são enfáticas e chatas; nada que indique uma personalidade. Não faz suspeitar excentricidade ou poesia; é o quanto basta; sendo medíocre e ridículo, tanto melhor. Efetivamente, o estranho que ler as suas missivas, nada tem a dizer. Na mocidade, o pai da menina escrevia assim; a própria menina não esperava outra cousa. Todos estão satisfeitos, até afinados. Que querem mais?



X


Enfim, o homem de espírito, em vista do que é, inspira às mulheres uma secreta repulsa. Elas se admiram com o ver tímido, acanham-se com o ver delicado, humilham-se com o vê-lo distinto. Por muito que ele faça para descer até ela, nunca consegue fazê-las perder o acanhamento; choca-as, incomoda-as, e esse acanhamento, de que ele é causa, torna frias as conversações mais indiferentes, afasta a familiaridade e assusta a inclinação prestes a nascer.
Mas o tolo não atrapalha, nem ofusca as mulheres. Desde a primeira entrevista, ele as anima e fraterniza-se com ela. Eleva-se sem acanhamento nas conversas mais insulsas, palra e requebra-se com ela. Compreende-as e elas o compreendem. Longe de se sentirem deslocadas na sua companhia, elas a procuram, porque brilham nela. Podem, diante dele, absorver todos os assuntos e conversar sobre tudo, inocentemente, sem conseqüência. Na persuasão de que ele não pensa melhor, nem contrário a ela, auxiliam o triste, quando a idéia lhe falta, suprem-lhe a indigência. Como se fazem valer por ele, é justo que lhes paguem, e por isso consentem em ouvi-lo em tudo. Entregam-lhe assim os seus ouvidos, que é o caminho do seu coração, e um belo dia admiram-se de ter encontrado no amigo complacente um senhor imperioso!



XI


Compreende-se, por este curto esboço, como e quanto diferem os tolos e os homens de espírito nos seus meios de sedução. A conclusão final é que os tolos triunfam, e os homens de espírito falham, resultado importante e deplorável, nesta matéria sobre tudo.



XII


Depois de ter indagado as causas da felicidade dos tolos, e da desgraça dos homens de espírito: perderemos tempo precioso em acusar as mulheres? Não hesitamos em deitar as culpas sobre os homens de espírito, como fez o profundo Champcenets. Porque não estudam os tolos, diz-lhes este autor, para conseguir imitá-los? Há de custar-vos muito fazer um tal papel: mas há proveito sem o fazer? E depois, quando assim sois a isso obrigado, visto como não vos dão outro meio de solução, querer subtrair o belo sexo ao império dos tolos, descortinando-lhe a perversidade do seu gosto, é cousa em que ninguém deve pensar, é uma loucura; seria o mesmo que querer mudar a natureza, ou contrariar a fatalidade. Porquanto, ficai sabendo, continua Champcenets, que as mulheres não são senhoras de si próprias; que nela tudo é instinto ou temperamento, e que, portanto, elas não podem ser culpadas de suas preferências. Só respondemos pelo que praticamos com intenção e discernimento. Ora, qual delas pode dizer que predileção a impele, que paixão a obriga, que sentimento a faz ingrata, ou que vingança lhe dita malignidades? Debalde procurareis nelas tão cruel prodígio; nenhuma é cúmplice do mal que causa; a este respeito, o seu estouvamento atesta-lhes a candura. Porque vos obstinais em pedir-lhes o que a Providência não lhes deu? Elas se apresentam belas, apetitosas e cegas: não vos basta isto? Querê-las com juízo, penetrantes e sensíveis é não conhecê-las. Procurai as mulheres nas mulheres, admirai-lhes a figura elegante e flexível, afagai-lhes os cabelos, beijai-lhes as mãos mimosas; mas tomai como um brinquedo o seu desdém, aceitai os seus ultrajes sem azedume, e às suas cóleras mostrai indiferença. Para conquistar esses entes frágeis e ligeiros, é preciso atordoá-los pelo rumor dos vossos louvores, pelo fasto do vosso vestuário, pela publicidade das vossas homenagens.



XIII


Sim, sim, é de mister ousar tudo para com as mulheres.



FIM


***


Tradução de De l'amour des femmes pour les sots, de Victor Henaux [Ver Nota do Organizador]. Primeira edição.: Typographia de F. de Paula Brito, 1861 Segunda edição., fac-similar: Academia Brasileira de Letras, 1943. Coleção Carolina, introdução de Afrânio Peixoto.
O primeiro passo dado nas letras por Machado de Assis é o ensaio Queda que as mulheres têm para os tolos de 1861. Por muitos anos, encarado como obra legítima do autor, o engano foi desfeito quando o professor francês Jean-Michel Massa encontrou a quarta edição de um livro intitulado De l'amour des femmes pur les sots, obra anônima da década de 1850, atribuída a Victor Henaux. Irei reproduzi-la aqui sem o constrangimento de infringir qualquer lei de direitos autorais. Obras antigas como essas são hoje tidas como patrimônio público e não exigem pagamento de direitos autorais (espero não ter demonstrado aqui ignorância sobre a Lei). Essa tradução, de Machado de Assis, foi recentemente publicada pela editora Crisálida e é dela que eu copio. Apesar disso, recomendo não como propaganda, mas como praticidade, a compra da publicação da editora, aliás, muito bonita. Como prometido, irei postar de 2, ou 3, em 2, ou 3, dias cada capítulo em um total de XIII. Espero que gostem, até mais.

***


SOBRE AS MULHERES

“As melhores mulheres pertencem aos homens mais atrevidos. Mulheres são como maçãs em árvores. As melhores estão no topo da árvore. Os homens não querem alcançar essas boas, porque eles têm medo de cair e se machucar. Preferem pegar as maçãs podres que ficam no chão, que não são boas como as do topo, mas são fáceis de se conseguir. Assim as maçãs no topo pensam que algo está errado com elas, quando na, verdade, eles estão errados... Elas têm que esperar um pouco para o homem certo chegar, aquele que é valente o bastante para escalar até o topo da árvore.”
(Machado de Assis)

“A mulher é igual à sombra: se correis atrás dela, foge-vos; se fugis dela, corre atrás de vós!”
(Alphonse M. L. P. Lamartine, poeta francês).

“Coração de mulher parece ser feito de palha: incendeia-se com facilidade, faz então muita fumaça, mas em pouco tempo tudo são cinza que o mais leve sopro espalha e desvanece.”
(Manuel Antônio de Almeida)

sábado, 22 de dezembro de 2007

Versão em PDF do livro "Tópicos" de Aristóteles

Autor: Aristóteles.

Download do texto na íntegra em:
http://mihd.net/ep7sx2
Cliquem em Request Download Link e logo depois em Download File.

“Novum Organum" - Francis Bacon

Autor: Francis Bacon
Tradução e notas: José Aluysio Reis de Andrade
Créditos da digitalização: Membros do grupo de discussão Acrópolis (Filosofia)
Homepage do grupo: Acrópolis

Download do texto na íntegra em:
http://mihd.net/drcoeg
Cliquem em Request Download Link e logo depois em Download File.

Versão em PDF do livro “Investigação Acerca do Entendimento Humano”

Autor: David Hume
Tradução: Anoar Aiex
Créditos da digitalização: Membros do grupo de discussão Acrópolis (Filosofia)
Homepage do grupo: Acrópolis

Download do texto na íntegra em:
http://mihd.net/sh2t4v
Cliquem em Request Download Link e logo depois em Download File.

Versão em PDF do livro “Crítica da Razão Pura”

Autor: Emmanuel Kant
Tradução: J. Rodrigues de Merege
Créditos da digitalização: Membros do grupo de discussão Acrópolis (Filosofia)
Homepage do grupo: Acrópolis

Download do texto na íntegra em:
http://mihd.net/39fjr6
Cliquem em Request Download Link.